Como gestor de empresa, você deve até sentir arrepios ao ouvir essa palavrinha: absenteísmo. Deve sentir também, na prática, os prejuízos que ela representa nos resultados da sua empresa, tanto financeiros quanto em produtividade.
O absenteísmo é um reflexo direto da relação entre a organização e seus colaboradores e ela vem se transformando continuamente, juntamente com os modelos de trabalho e novos anseios das pessoas.
Apesar das ausências habituais e os atrasos constantes no trabalho serem uma preocupação antiga por parte dos gestores e empreendedores, estudar e propor soluções com seriedade é algo recente. Isso vem junto com a valorização do capital humano e as questões que envolvem inovação e transformação digital.
Mesmo com os avanços, o ambiente de trabalho ainda não atende às demandas físicas e mentais que os colaboradores desejam e necessitam para a sua plenitude. A maioria ainda sofre grande pressão e falta mais do que o esperado para o bom andamento dos processos e das demandas organizacionais.
Isso interfere nos prazos, metas, afeta o ambiente de trabalho e, consequentemente, a cultura de uma empresa. Para combater esse mal, a medida mais eficaz é a prevenção.
Os motivos para as faltas são muitas e há segmentos que sofrem mais com essa dor, devido a algumas atividades inerentes, que ocasionam problemas de saúde, alto grau de estresse e insatisfação. As jornadas de trabalho, com horários inapropriados e tempo estendido são algumas dessas peculiaridades.
O fato é que a essência da questão é sempre organizacional e requer uma profunda mudança na cultura da empresa. Isso envolve as políticas que regem o comportamento do grupo e a conexão entre os colaboradores dos diversos setores, passando diretamente pelas lideranças.
Propósito e novos valores corporativos
Os novos formatos de organizações, com lideranças mais horizontais e incentivo à criatividade e cooperação, inspiradas nas startups, não nasceram de um modismo, mas das mudanças no modo de viver das pessoas. Como gestor, você deve estar atento a essas mudanças, porque o seu colaborador e cliente também mudaram sua forma de pensar, agir, trabalhar e comprar produtos e serviços.
As pessoas realmente querem se sentir motivadas por um propósito ao trabalhar numa empresa, esteja seu cargo relacionado a um setor administrativo ou operacional. Querem deixar um legado. Por isso, incentivar habilidades, como empatia, generosidade, proatividade, boa comunicação e atitude de colaboração – conhecidas como “softs skills” – deve ser o novo caminho.
Entenda o absenteísmo ou absentismo corporativo
Essas expressões são usadas no mundo dos gestores para se referirem à falta de assiduidade no trabalho e outras obrigações, seja por ausência ou atraso.
Segundo definição do livro Gestão de Pessoas (Elsevier Brasil, 2008) do autor Idalberto Chiavenato, o absenteísmo constitui a soma dos períodos em que os colaboradores se encontram ausentes do trabalho.
Quando o assunto é absenteísmo, aspectos como satisfação no trabalho, bom clima organizacional, programas de benefícios e condições ergonômicas (que diz respeito à otimização das condições de trabalho para conforto e saúde dos colaboradores) devem ser analisados como pontos de partida. Mas, em uma análise profunda, vai além disso.
A taxa de absenteísmo influencia os níveis de produtividade e afeta diretamente os resultados de uma empresa, elevando custos e prejudicando a qualidade da produção e prestação de serviços. Por essa razão, gera grande preocupação nas organizações e força os gestores a compreenderem melhor o tema, em busca de soluções que o minimizem.
Conheça os tipos de absenteísmo nas empresas
Entre os vários tipos de absenteísmo, que se dividem entre as faltas voluntárias e involuntárias, vale ressaltar que o absenteísmo relacionado à empresa engloba dois tipos. São eles:
● Absenteísmo compulsório: motivada por imperativos de ordem legal por parte da empresa, como a suspensão de um funcionário por um superior.
● Absenteísmo por patologia profissional: causada por doenças ocupacionais, como a lesão por esforço repetitivo (LER), distúrbios osteomusculares e doenças da visão.
O absenteísmo por parte da empresa também pode ser desencadeado por fatores sociais, culturais, organizacionais e psíquicos. Já o absenteísmo pelo empregado se resumem a três. São elas:
● Faltas voluntárias: motivadas por razões particulares e não justificadas.
● Faltas por doença: justificadas por diagnóstico e tratamento médico.
● Faltas legais: amparadas pela lei, como a licença maternidade e serviço militar.
Na ausência voluntária, o colaborador pode sofrer consequências, como descontos nos vencimentos e prejuízos à sua reputação.
Descubra a taxa de rotatividade e absenteísmo na sua empresa
É sempre importante que um gestor tenha em mãos o máximo de números possíveis referentes ao seu quadro de funcionários, produtividade e isso envolve também ter a taxa de absenteísmo. Para ter o controle disso, o gestor de RH deve manter um controle automatizado de faltas e suas respectivas justificativas.
Como o absenteísmo está ligado à alta rotatividade, que indica o fluxo de entrada e saída de colaboradores em uma empresa, é importante calcular também esse índice. Para isso, basta dividir o número de colaboradores desligados (por iniciativa própria ou da organização) pelo efetivo médio da empresa.
Segundo estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, a taxa de rotatividade no Brasil para trabalhadores com carteira assinada foi de 54,8% em 2015. Um índice alto que pode ser alimentado pelo absenteísmo, já que a ausência constante causa perturbações no ambiente de trabalho, reduz a capacidade de retenção e pode ser originada a partir de insatisfações dos colaboradores junto à empresa.
Para isso, existem diversos sistemas de ponto eletrônico que registram os horários dos colaboradores com precisão, tornando o trabalho de monitoramento mais simples. Além de serem incluídas as saídas antecipadas e atrasos.
Para obter um indicador básico de análise da taxa de absenteísmo, considerando o número de colaboradores e dias/horas de trabalho perdidos, você precisa calcular o número de horas líquidas de trabalho e encontrar o número de horas de abstenção. Para isso, o cálculo é feito em três etapas:
1. Multiplicar o número de colaboradores pelo número de horas e dias na jornada;
2. Somar todos os atrasos e faltas para encontrar o número de horas perdidas;
3. Dividir o número de horas perdidas pelo número de horas de trabalho.
Principais causas do absenteísmo no trabalho
Os principais motivos para ausência dos colaboradores no trabalho são apontados, em diversas pesquisas particulares ou do governo, pelas enfermidades, doenças ocupacionais, sobrecarga de funções e más condições de trabalho. Problemas pessoais, mal tempo e precariedade do transporte público também afetam as taxas de absenteísmo nas empresas. Os motivos podem ser voluntários ou involuntários, como por questões legais ou doenças.
Uma pesquisa do IBGE, em parceria com o Ministério da Saúde (2015) revelou que as principais causas de faltas no trabalho no Brasil são bastante triviais: gripes e resfriados. Nas duas semanas anteriores à pesquisa, 14 milhões de brasileiros haviam deixado de trabalhar por motivos de saúde, o que corresponde a cerca de 7% da população.
Apesar dessa análise global, vale a pena olhar mais de perto para o seu segmento. Isso porque, além de impactar em mais de 50% na folha de pagamento de um empregador a cada turnover (troca e treinamento de funcionário), há grande demanda por mão de obra especializada em muitos setores, sem que ela seja suprida.
Gerenciar o absenteísmo, para determinados setores, requer tantos recursos quanto gerenciar uma crise, pois provoca prejuízos, reduz a qualidade de produtos e serviços e afeta o clima organizacional.
Por isso, preparamos 5 dicas de como lidar com o absenteísmo e resolver esse problema, de uma vez por todas, na sua empresa, transformando a sua cultura em algo melhor e mais motivante para todos:
1- Conhecer as causas das ausências
O primeiro ponto requer um levantamento sério sobre os principais fatores que motivam os colaboradores a se ausentar do trabalho na sua empresa. É preciso determinar se as faltas são voluntárias ou involuntárias, causadas por fatores internos ou externos. Para isso, a melhor forma é criar ações com o objetivo de ouvi-los. Isso pode ser feito por meio de questionários, sem que seja necessário identificação, uma dinâmica em grupo ou mesmo uma conversa franca com sugestões para implantação de melhorias.
2- Fortalecer a cultura organizacional
As pessoas querem ser valorizadas e um ambiente de trabalho agradável motiva o colaborador a cumprir seus horários e funções. Essa ideia costuma ser colocada em prática por meio de programas de benefícios e recompensas. Mas, estabelecer laços de confiança, ouvir e aproveitar as ideias dos colaboradores e alinhá-los ao propósito da empresa é que costuma ter efeitos reais e duradouros. Eles podem até garantir a tão almejada assiduidade das equipes.
Para estar presente de corpo e alma é preciso, primeiramente, estar presente de corpo. E só veste a camisa quem acredita e tem paixão pelo que faz, se sente bem no ambiente em que passa a maior parte da vida. Então lembre-se: oferecer oportunidades de crescimento, reconhecer esforços e propor atividades fora do ambiente corporativo são algumas formas de motivar seus colaboradores a seguirem os objetivos da empresa.
3- Melhorar a gestão e lideranças
Não só os profissionais do RH, Comunicação e Marketing, mas todos os gestores e líderes de departamento da sua empresa deveriam se encarregar da investigação, monitoramento e ações para redução do índice de absenteísmo. Boa parte das iniciativas pela redução das faltas e atrasos no trabalho abrangem políticas de recursos humanos, treinamentos e incentivos globais na tentativa de engajar o maior número de pessoas. O exemplo e iniciativas devem ser implantadas de cima para baixo;
4- Garantir saúde física e mental dos colaboradores
O combate às ausências laborais abrange o bem-estar físico e mental dos colaboradores. Por isso, o RH deve considerar os critérios de saúde ocupacional e qualidade de vida para elaborar sua gestão do absenteísmo. Como o de oferecer convênios de saúde mais completos ou subsídios para medicamentos e tratamentos alternativos.
Isso envolve academias, consultas com nutricionistas, fisioterapeutas e psicoterapeutas. A aposta nessas áreas e também em programas de coaching para melhorar a condição real de vida dos funcionários pode ser uma excelente alternativa para reduzir o absenteísmo e alavancar os níveis de satisfação e desempenho no trabalho. Melhorar essa satisfação irá melhorar também a visão desse público interno com relação à sua empresa. Isso refletirá também na imagem que os públicos externos faz de você, seus produtos e serviços.
5- Prevenir é a melhor saída
Prevenir o absenteísmo é melhor do que remediar. Quando a situação já está instalada, pode contaminar outros colaboradores e se tornar crônica. Se você quer evitar o problema, deve garantir que a cultura organizacional e as políticas da empresa realmente promovam a saúde e o bem-estar de todos, promovendo um ambiente equilibrado e adequado.
Isso vai além das jornadas de trabalho, mas tem a ver com o quão estressante o ambiente é e como funciona a pressão pelos prazos. Havendo confiança na entrega, não importa se parte da equipe trabalha home office ou não e os benefícios também podem ser estendidos à todos.
Vale lembrar que estamos na era do capital humano, na qual os colaboradores são parceiros do negócio e os talentos certos definem os rumos da organização. Por isso, estruturar uma gestão de absenteísmo que acompanhe os índices de faltas e tome medidas imediatas para minimizar as ocorrências é de extrema importância para uma gestão eficiente.
Esperamos que essas dicas ajudem você e outros gestores a transformarem as culturas organizacionais tradicionais, deixando para trás os altos níveis de absenteísmo e construindo ambientes de trabalho mais estimulantes, criativos e motivadores.